Friday, January 13, 2006

Na selva de Eiffel cheira a borracha queimada

Estou em Paris, remetido à ideia de que me tenho de habituar ao facto (porque outro não será aceite socialmente) de que estou na mais bela cidade do mundo...
E, de facto, assim parece ser. Logo eu que sempre fui um gajo fascinado pelas chamas desde que em miúdo deitei fogo ao guarda-fatos dos meus pais, logo esse que era de portas de pano e fácil vítima do fósforo cujo raspar na lima eu devo ter aprendido à força de ver a minha mãe a fazê-lo todos os dias.
Pois: Paris acaba de me satisfazer essa mania pirónoma que eu tive em pequeno (devem sempre ficar reminiscencias...) e... aquilo é chama por tudo quanto é lado...
Quedo-me, como qualquer pessoa, a olhar as imagens. E num misto dessa obrigação de gostar de Paris e daquilo que o meu olhar capta em todos os canais da TV a primeira pergunta é se me sinto pessoalmente ameaçado ou não.
É estranho: Em Maputo eu sinto-me ameaçado na minha segurança pessoal pois a qualquer momento posso ser mais uma vitima duma gang qualquer a quem inadvertidamente atravessei o caminho. Mas sinto que a sociedade está, apesar de estranhamente, calma...
Mas aqui, em Paris estou a habitar mesmo o centro, e na minha rua a única coisa que aconteceu foram três jovens que pelas quatro da manhã resolveram deitar todos os caixotes do lixo ao chão... De resto tem sido um ponto a favor da cidade luz: Paris é optimo para se ser ignorado!
Ou seja, enquanto num lado me sinto pessoalmente ameaçado mas socialmente tranquilo, aqui na cidade da Torre Eiffel eu sinto o contrário.
Dada a facilidade que parece existir para o recrutamento, não consigo deixar de me perguntar quando é que uma das carruagem que transportam os 2 milhões de seres humanos por baixo da terra diariamente, vai explodir no resultado da acção dum jovem a quem foi dito que no Paraiso não teria Ministros Sarkozy a chatear-lhes a cabeça...
A segunda pergunta leva-me ainda a outras inquitações .
Não consigo inibir-me de perguntar o que se passa numa sociedade em que dois jovens se fazem electrocutar numa fuga à polícia, ao que se segue uma revolta e logo depois uma rusga, marcada com um insulto cowboy da “canalhada” do Ministro do Interior, e seguida de dias incontroláveis de revolta popular simbolizada pela queima dos carros dos próprios confrades das vítimas.
“Faz-me espécie...” como dizia o meu pai que sempre foi desconfiado que nestas coisas deve sempre haver algo de bastante podre debaixo do tapete.
E, como eu à medida que envelheço tenho tendência a apreciar a sapiência do velho, fico logo com vontade de acrescentar que a merda deve já ter mesmo impregnado o tapete.
Que me desculpem os franceses (caucasianos, arabes e africanos - para usar critérios de classificação de cor, religião e continentes o que normalmente serve para explicar o que queremos mas perpetua uma confusão enorme...): Uma sociedade em que factos do quotodiano desencadeiam enorme bolas de neve (no caso deviamos mais apropriadamente chamar-lhes "bolas de fogo...") deve mesmo andar apenas a fingir que são o País mais avançado culturalmente do mundo.
É que se por cultura entendermos a representação mais ou menos artistica de um real transfigurado – o que é uma maneira simpática de traduzir o conceito da “mentira” – então temos de concordar que eles são mesmo os "vencedores" dessa nobre área da vida e da sociedade.
Mas se por cultura entendermos que o que importa são os homens em sociedade e não as fachadas dos edificios então, peço-vos imensa desculpa, mas de facto parece-me que eu devo ter estado estes dias a constatar que a Europa tem paredes, tem mesmo os produtos ba'sicos da vida, tem até as reformas da segurança social (não me venham dizer que é crise porque se soubessem o que se passa nesse nível no meu País nem se atreviam a falar) tem, enfim, tudo o que materialmente deve servir as pessoas mas não tem mais, ou tem muito pouco, a dar ao ser humano enquanto ser intelectual e, exactamente por isso, diferenciado dos outros animais...
Talvez tenha sido por isso que eu passei a cancela do homem do aeroporto de Maputo e tenha descoberto que a minha mala fora destruida na viagem (Africa do Sul, pois claro) e nem por isso tenha ficado com uma daquelas depressões que sempre me acontecem quando regresso.
Mas fiquei com raiva ah lá isso fiquei: É que me parece que também por aqui, temos estado paulatinamente a destruir esse tesouro de humanidade que talvez o sol e o espaço amplo nos tenha moldado... e não deixar de verificar que caminhamos cada vez mais para que um dia tenhamos de substituir as campanhas das “queimadas incontroláveis” por um outro fogo qualquer... seja nos carros do Estado ou nos chapas e Tchovas Xita Duma dum popular qualquer...


5 Comments:

Blogger zazie said...

bem-vindo pois... quem havia de dizer...

ehehehehe

o diabo do mundo é pequeno ":O))

beijocas

Vou mandar-te um mail por causa das coisas

6:32 PM  
Blogger zazie said...

então, onde botaste o mail?

isto ainda não tem?
nesse caso vai para o velhinho de sempre. Espero que ainda funcione

6:33 PM  
Blogger Pitucha said...

Bm vindo à blogoesfera!

6:25 AM  
Blogger Lya said...

benvindo ao mundo dos blogs!

3:16 AM  
Blogger Passada said...

Foi preciso ires para aí para ouvir falar de ti. Bien venu a este mundo e já agora ficas aí quanto tempo?
Foi na cidade da luz, em pleno centro onde fiquei há uns meses que vi com meus olhos uma tentaiva de roubo de carro, da janela do hotel. Na te apoquentes!!
Beijinhos passados!!

4:51 AM  

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